Clandestino


Escrevo às escondidas, clandestino,
na sombra, na penumbra, no escuro.
Mas mesmo assim o verso sai tão puro,
a falta de razão não tem mais tino.

Pareço um vulgar ladrão de igreja,
um rato encolhido, um fantasma,
um tísico com tosse e com asma,
um peito inflamado e que arqueja.

E tudo o que escrevo é tão limpo,
sem mácula, sem podres, sem pecado,
em linhas sem pudor e sem razão.

Apenas lhe escrevo o que sinto:
Saudades a que estou eu condenado,
um trapo que me esconde o coração.