Palavras, leva-as o vento!



Escrevo mentalmente
as palavras
em folhas virtuais bem escondidas.
Eu quero que elas fiquem
como escravas,
não quero que elas fujam atrevidas.
E vou com paciência
esperar
o vento que assopra prós seus lados,
lançá-las com carinho
pelo ar
querendo que lhe levem os meus fados.
Por isso esteja atenta à leve
brisa
que teima em desmanchar o seu cabelo.
Não queira penteá-lo,
nem precisa.
O vento entretém-se a tecê-lo
em golpes que o levam
para trás,
a ver se descobre o seu ouvido.
Sussurra, como só ele
é capaz,
a música que leva a meu pedido.
A mão, atrás da nuca
sem esforço,
segura os cabelos tão revoltos.
O ar envolve então o seu
pescoço.
Em breve a sua mão os deixa soltos,
rebeldes e tão livres como
o vento.
Ondulam ao sabor dessa canção,
que mesmo sem o seu
consentimento,
abana o seu frágil coração.
Escute lá no fundo
a poesia
que chega até si desta maneira.
Pergunte ao coração
o que queria,
ainda que a cabeça não o queira.
E faça um vira-vento
de papel.
Assim sabe se o vento é de feição
que vá roçar de novo
sua pele,
levar junto de si nova canção.